quarta-feira, dezembro 24, 2008

Já não me lembro se foi ao Homer Simpson que disseram para ele aproveitar o último dia que tinha de vida, mas ele só conseguia chorar. Acho que depois se dá uma reviravolta qualquer nesse episódio mas isso agora é irrelevante. O que é que leva alguém a viver um dia como se fosse o último? Isso não tem piada nenhuma. Eu cá vivo as coisas como se ainda tivesse imenso tempo para fazê-las muitas mais vezes. E isso para mim é que faz sentido porque só a ideia do futuro me faz aproveitar o presente. Ninguém consegue aproveitar nada se souber que é a última vez que vai viver aquilo. Eu cá só conseguiria chorar, como o Homer, esse grande sábio da gestão emocional.

quarta-feira, novembro 26, 2008

A morte apanha-me sempre

Não escrevo nada de jeito mas, às vezes, há quem escreva por mim.

Ontem, perdi a carteira com todos os meus cartões e documentos. Quero pedir-vos desculpas antecipadas por ter de voltar a escrever sobre a morte. Não é por mal. Não é porque queira perturbar-vos. Às vezes, perguntam-me se não tenho outro tema e chego a pensar que não. Perguntam-me se não me canso. Eu canso-me. Antes do verão, uma senhora disse-me: um escritor vê beleza nos lugares mais difíceis. Eu sorri, cobri a sua frase com silêncio e pensei: não é verdade.

Nesta semana que passou, na terça-feira, sentei-me no sofá da casa da minha irmã e estive a ver filmagens antigas. Metade das conversas eram: estás a filmar?, não me filmes, ela está a filmar?, não está a filmar, pois não? Depois, havia minutos longos em que esqueciam a máquina ligada e filmavam o chão: as pedras da rua, os passos mais lentos ou mais rápidos, a respiração. Está a filmar? Isto está a filmar? Havia partes em que estávamos todos juntos, todos mais novos. Entre nós, a falar connosco, a rir connosco, estavam os nossos mortos. A minha sobrinha, que agora se deprime e usa soutiens, era um bebé ao colo de um dos nossos mortos. Eu era um adolescente despenteado e desagradável, com um pullover de lã. A minha mãe raramente se sentava. Como nós, os nossos mortos perguntavam: ela não está a filmar, pois não? E ouvia-se a voz da minha irmã, atrás da máquina, a dizer: olhe para aqui, diga lá qualquer coisa.

Cada vez que participo num programa de televisão em directo, tenho vontade de me levantar e de, a completo despropósito, dar uma estalada no apresentador. Não tenho nenhuma espécie de aversão para com qualquer apresentador. Pelo contrário. Normalmente, são pessoas que sabem fazer muito mais expressões faciais do que aquelas que mostram. A corrente que me puxa é a curiosidade acerca daquilo que aconteceria depois. Fazem-me perguntas: quando começou a escrever?, porque escreve?, quais são os autores que mais o influenciaram? Eu respondo devagar, e, por detrás de cada palavra, sinto vontade de levantar-me, ter a completa percepção de todos os meus movimentos e dar-lhes uma estalada.

Houve um dia desta semana em que perguntei aos nossos mortos se podia ser insensato. Eles disseram logo que sim.

No domingo, quando já começava a anoitecer, passei por uma criança que estava à espera, sozinha, dentro de um carro. Era um rapaz de seis ou sete anos. Estava sentado, muito direito, no banco de trás, e brincava com os dedos. Temo não ser capaz de explicar a opressão que senti no peito. Num instante, fui levado para um passado de há trinta anos atrás. Lembrei-me de ser aquele exacto menino e de não saber se os meus pais voltavam. Posso ir também? Não, espera aí. Por favor, posso ir também? Não, espera aí. O tempo passa de maneira diferente para as crianças. Cinco minutos é muito tempo, dez minutos é muito tempo, meia hora nunca mais acaba. Eu olhei para esse rapaz de seis ou sete anos, mas creio que ele não me viu. Melhor assim. Eu não iria querer um estranho a olhar para mim enquanto me doía o medo de ficar sozinho para sempre.

Perguntei aos nossos mortos se podia chorar. Eles disseram que sim, podia chorar o quanto quisesse.

Chorei dentro do carro com seis ou sete anos e chorei fora do carro, trinta e quatro anos, atràs de uma árvore, ridiculamente, a fingir que atava um sapato.

Quero pedir-vos desculpa por ter chorado.

Nestes últimos dias, nesta semana, no supermercado e noutros lugares bem iluminados, tem-me acontecido estar a conversar com a minha mãe ou com a minha sobrinha e, de repente, reparo que estou a falar para uma pessoa qualquer que não conheço e que olha para mim muito admirada. A minha mãe ou a minha sobrinha ficaram lá atrás a ver qualquer coisa e eu fico muito envergonhado por estar a demonstrar tanta familiaridade para uma desconhecida que só de modo remoto poderia ser confundida com a minha mãe ou com a minha sobrinha. Uma vez, só reparei nesse engano quando já ia começar a zangar-me por não me responder. Noutra vez, só reparei quando já estava a abanar-lhe o braço para que visse algum objecto que me parecia importante e que, agora, já não me consigo lembrar do que era.

Durante esta semana, várias vezes, também perguntei aos nossos mortos se podia fechar os olhos. Eles disseram que sim, claro que sim. E pediram para não lhes fazer mais perguntas, disseram que a resposta será sempre sim.


Por José Luís Peixoto.
Encontrei-o aqui.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Post que não interessa a mais ninguém a não ser a mim



Bulldog Francês


West Highland White Terrier

O Cabrão do Cão gostava de ter estes exemplares para melhores amigos. De preferência se já tiverem sofrido um bocado na vida, para poderem partilhar mazelas. Mas bem dispostos, que o Cabrão do Cão não está para dramas.
Nada disto faz muito sentido, eu sei.
Espero que saibam que quando eu digo o Cabrão do Cão não me estou a referir a mim na terceira pessoa. Eu cá não sou dessas.

terça-feira, setembro 30, 2008

Mais fácil é difícil

O que se chama a uma mulher que é traída sempre da mesma maneira?
Cornucópia.

quinta-feira, setembro 11, 2008

Reflexão #48302


É inexplicável o meu fascínio por casas em ruínas embora psicanaliticamente haja uma razão para tudo. Se calhar não me interessa saber qual é. Só gosto de olhar para ruínas e abandonos porque reconstruo tudo na minha cabeça e imagino um panorama mais feliz. No fundo, sou eu que me reconstruo e gosto disso. Sou uma arquitecta do pensamento.

segunda-feira, julho 28, 2008

Nunca consigo fazer bons títulos

É mais um chavão que me ocupa a mente mas gosto de pensar neles como cultura comum, um fio que une os diferentes e os iguala. Não era sobre isto que eu queria falar. Era sobre a coincidência que é duas pessoas gostarem uma da outra. De maneira diferente porque ninguém gosta da mesma maneira mas ainda assim da pessoa que retribui o sentimento. Parece-me sempre que há pouca probabilidade de acontecer.
Também gosto de pensar que nunca gostei de pessoas diferentes da mesma maneira e por isso é que faz sempre sentido dizer Nunca gostei de ninguém como gosto de ti. Parece que afinal os sentimentos não são só meus mas tomam formas diferentes consoante a diferença do outro. Parece chavão mas não é.

terça-feira, junho 17, 2008

É canadiana



Por favor, espero não voltar a ouvir dizer que a Feist é canadense. São ridículas estas modas. Dizem-se coisas erradas porque se ouviu alguém dizer e de repente, qual vírus, a moda propaga-se e chega a matar pessoas como eu, tão sensíveis à correcção da língua. Emigrem para o Brasil. É lá que se fala assim.

quinta-feira, maio 29, 2008

A lembrar la Palice

Há sempre um segundo que antecede os momentos importantes. E dura sempre menos que isso, especialmente quando revisto no futuro porque os grandes acontecimentos deixam sempre uma marca maior do que ele. Só que isso só lhe dá importância.

sábado, maio 10, 2008

Me and Mrs Jones. Atenção, mas eu gosto desta música.

O Billy Paul decidiu levar o adultério a outro nível, o que não quer dizer que seja a um nível superior. Não descreve sexo à bruta nem puxões de cabelos como todos os casos (de adultério ou não) deviam ter. Não, aqui há duas pessoas que se encontram todos os dias, à mesma hora, no mesmo café. Aí, em vez de irem à casa de banho fazer o que os adúlteros indecentes fazem, não. Dão as mãos e fazem planos para o futuro enquanto a juke box toca as músicas deles. É um bocado infantil. E depois vem a culpa, eles sabem que não deviam fazer aquilo, que nem devem sonhar muito alto porque depois a queda é maior. Parece-me que em vez de planearem apunhalar o marido dela e fugir para as Caraíbas, onde viveriam como foragidos, a saltar de biscate em biscate, devem sonhar com coisas muito mais nobres, como um dia poderem ir passear às montanhas. Parece-me, e vou ter que repetir, um bocado infantil, porque isso de se planearem coisas idílicas nem devia ser traição e o facto de se sentirem culpados é, simplesmente, imbecil. Eu não digo que não ache bonito, mas o significado do amor perde-se quando não há sexo e parece-me que estes dois não o têm, ou se sim, é uma coisa assim um bocado esfriada, que nem tem direito a ser mencionada. Se fossem irmãos podiam fazer exactamente a mesma coisa.

segunda-feira, maio 05, 2008

Esta sou eu. Juro.

Dizem que sou antipática, arrogante, insensível. Hoje até me disseram que por eu parecer inatingível e forte dou a ideia de que só se chega a mim magoando-me. Admito que posso parecer distante quando não tenho interesse em alguém, mas ninguém é tão devoto como eu sou em relação às pessoas de quem gosto, nem tão fiel, nem tão disponível. O meu problema é ser tão criteriosa relativamente a essas pessoas. E é só disso que me podem acusar.

sábado, maio 03, 2008

Eu e ele, num altar perto de si, parte II

Entre o passado e o futuro

Decerto está ligado a uma incapacidade minha, a incapacidade de viver o presente. Na verdade estou sempre ligada ao passado e aquilo que já passou parece sempre melhor do que foi na realidade. Se calhar é um fenómeno mnésico que precisa de explicação, ou se calhar sou só eu que encontro sempre uma explicação melhor do que a que corresponde à realidade. Fui sempre feliz no passado embora não o sentisse no presente que corresponde a esse passado. Acho, também, que vou ser feliz no futuro embora quando ele chegar vá pensar que não o sou. O truque seria aproveitar o presente, já que no futuro vou achar que fui feliz nesse passado. Confuso? Para mim ainda é mais.

quinta-feira, abril 24, 2008

Frases que marcam

Chloé voltou a olhar para ele. Tinha olhos azuis. Sacudiu a cabeça atirando para trás a cabeleira ondulada e brilhante, e com um gesto firme e decidido encostou a têmpora à sua face.
À volta fez-se um silêncio abundante, e a maior parte do resto do mundo começou a não valer um caracol.


In A Espuma dos Dias, Boris Vian

terça-feira, abril 22, 2008

Há coisas sinistras, não há?

Com o distanciamento necessário de situações como a seguinte, já consigo descrever um dos dias mais sinistros que tive que passar. É que, às vezes, o desemprego tolda-nos o bom senso e a capacidade de discernimento. Vi um anúncio de uma vaga para uma nova agência de publicidade e marketing que precisava de licenciados. Só isto. Pensei que não custava tentar. Mas custou. Fui chamada para uma pré-entrevista, em que me explicaram que, ao ser seleccionada passaria por três fases dentro da empresa. Durante a primeira teria que ser comercial. Logo aqui devia ter virado costas, mas lá está, o discernimento estava meio apagado. Depois iria gerir recursos humanos. Bom, isto já tem mais a ver comigo. Na terceira fase, teria que gerir uma das agências do grupo. Menos mal.
Passei na pré-entrevista. No dia seguinte fui lá para passar o dia com uma formadora, para ver como eram as funções de comercial. No caminho para lá só me apetecia fugir. Mas lá me deixei ficar a pensar que não perdia nada. Mas perdi.
Ora, então, vamos agora para São João da Talha. Podemos ir no teu carro, que eu não trouxe o meu? Mau, mau. Lá fomos. Chegámos ao destino e, com o carro carregado de caixotes, começámos a descarregar para levar coisas connosco. Agora é vendermos a quem passa na rua. A esta altura já eu estava a agradecer a Deus não estar no centro de Lisboa, onde teria levado a cabo o meu plano de fuga. Não tens que vender nada, assiste só. Mesmo que tentasse vender, não iria conseguir porque mais rapidamente daria um sopapo aos transeuntes do que faria a conversa que passo a descrever. Olá. Está bem disposto? Estou a promover um produto que é só para pessoas bem dispostas. Pode pegar na caixa. É um calendário digital, com diversas funções: calculadora, despertador, relógio e calendário. Está interessado? Não? Mas há pessoas que aproveitam só pelas ofertas. Temos aqui um pack de seis livros da Warner. São livros didácticos com as rotinas dos bebés. Mas se não tem crianças, a outra oferta é para si. É uma caixa com seiscentas porcas, parafusos, buchas e anilhas. Então, qual das ofertas vai desejar? Quando ouvi isto pela primeira vez fiquei em estado de choque mas o pior ainda estava para vir, porque nessa altura ainda não tinha ido a uma agência funerária com a tresloucada, ainda não tinha ido aos cafés onde ela andava de mesa em mesa, ainda não tinha ido a uma peixaria nem a um banco, ainda não tinha ido à porta do cemitério onde a proibí de entrar, ainda o calor não estava a dar cabo de mim e ainda não me doíam os braços de andar carregada com as caixas.
No fim do dia, quase me imploraram para ficar a trabalhar lá porque eu tinha perfil para aquilo. Só podiam estar a gozar, é óbvio que não aceitei.

quarta-feira, abril 02, 2008

Mais uma piada facílima




Poderá um grupo de japoneses a fazer sashimi chamar-se Cutting Cru?

quarta-feira, março 19, 2008

O cabrão do cão em Amsterdão




Há uma semana, fui feliz.

segunda-feira, março 10, 2008

Pouco glorioso

Não percebo como é que se pode Negal assim a vitória ao Benfica.

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Uma língua comum a todos os povos do mundo? Isso é esperantoso.

sábado, janeiro 05, 2008