terça-feira, setembro 28, 2004

Delírio II

Já alguém o saberia, é possível. Pelas paredes cinzentas que outrora amarelas foram, pingava vapor de água. Não se respirava. Espera, que entrou alguém. Espera, já disse. Espera! Passo a passo, já sem medo e já sem calma, voam cadeiras e vão caindo, um a um, como ele já planeara. Agora já não se respirava mesmo. Só a sua respiração, como se se pudesse arrancar dali a vida que os outros já não tinham, mas ainda assim não era possível fazê-lo, porque continuava a ser só a sua respiração e não a dos outros. Trágico e mórbido, sem que daquilo se pudesse fazer nada. Sem mais nada, braços pendentes e a desgraçada da lágrima pela bochecha abaixo, com o queixo sempre a tremer. Nada a fazer. Sem palavras e sem consolo, já as lágrimas corriam pelo peito. Muitas. Já num sufoco, sem esperança e sem apelo. Mais uma vez fugiu e mais uma vez não foi apanhada. Só o foi pela surpresa.

1 comentário:

Anónimo disse...

É delirante esta Mariana